Os ilírios (em grego: Ἰλλυριοί; Latim: Illyrii ou Illyri) eram um grupo de tribos que habitaram parte dos Bálcãs Ocidentais na Antiguidade. O território abrangido pelos ilírios veio a ser conhecido como Ilíria pelos autores gregos e romanos, correspondia a partes da ex-Iugoslávia e Albânia, entre o Mar Adriático a oeste; o rio Drava ao norte, o rio Morava na nascente e a foz do rio Vjosë ao sul. A primeira menção dos povos ilíricos vem de Periplus ou Passagem Costeira, um antigo texto grego de meados do século 4 a.C.
As tribos ilírias e o território que ocupavam |
Dessas tribos, ou pelo menos um número de tribos consideradas “propriamente ilíricas”, se presume que eram unidas por uma língua ilírica comum da qual apenas pequenos fragmentos são atestados suficientemente para classificá-la como um ramo do indo-europeu. A língua ilírica foi extinta por volta do século V d.C. O gentílico ‘ilírio’ foi aplicado pelos antigos gregos aos seus vizinhos do norte e pode ter se referido a um grupo amplo e mal definido de povos, e hoje não está claro o quanto eles eram linguística e culturalmente homogêneos. As tribos da Ilíria coletivamente nunca se viam como ilírios, e é pouco provável que eles utilizaram qualquer nomenclatura coletiva para si. No entanto, ‘ilírio’ parece ser o nome de uma única tribo desses povos, que foi a primeira a entrar em contato com os antigos gregos, fazendo com que o gentílico ‘ilírio’ fosse aplicado a todas as pessoas de língua e costumes semelhantes. O termo "Ilírios" aparece por último no registro histórico no século VII d.C. referindo-se a uma guarnição bizantina em operação dentro da antiga província. Todas as tribos restantes foram assimiladas pelos eslavos no curso da Idade Média, com exceção dos valacos, que permaneceram de certa forma romanizados. O moderno albanês parece ter descendido de um dialeto do sul da Ilíria. No século XIX, uma identidade nacional ilírica tornou-se significativa no nacionalismo croata bem como também desempenhou um papel significativo no movimento nacional de renascimento albanês.
Representação de guerreiros ilírios num cinto-placa |
Os Ilírios e a Mitologia Grega
Na mitologia grega, Ilírio era o filho de Cadmo e Harmonia, que eventualmente governou a Ilíria e se tornou o ancestral homônimo de todo o povo ilírio. Ilírio teve vários filhos (Enqueleu, Autarieu, Dardano, Maedo, Taulas e Perrhabeu) e filhas (Parto, Daorto, Dassaro e outras). Destes, nasceram os Taulâncios, Partinos, Dardânios, Enqueleus, Autariates, Dassaretas e os Daors. Autarieu teve um filho Panônio ou Peôn e estes tiveram como filhos Escordisco e Tribalo. Uma versão mais recente relaciona como parentes dos ilírios os seres mitológicos Polifemo e Galateia que dão à luz Celto, Galas e Ilírio. O segundo mito poderia provir talvez do semelhanças dos ilírios com os celtas e gauleses.
Ilustração de Cadmo e Harmonia, heróis dos quais descendem os ilírios na mitologia grega |
Origens
O início histórico dos povos que mais tarde conhecidos como ilírios é colocado por volta de 1000 a.C. A origem dos ilírios continua a ser um problema para os historiadores modernos. O consenso da corrente teórica dos primordialistas é que os antepassados etnolinguísticos dos ilírios, rotulados de Proto-ilírios, ramificou-se a partir do tronco lingüístico proto-indo-europeu antes da Idade do Ferro. As atuais teorias da origem dos ilírios são baseadas em antigos vestígios de cultura material encontrados na região, mas os vestígios arqueológicos até agora têm se mostrado insuficientes para uma resposta definitiva para a questão da etnogênese dos ilírios. Quando os Proto-Ilírios tornaram-se um grupo distinto permanece obscuro. Eles emergem para fora do grupo maior chamado Paleo-Balcânico por volta da Idade do Ferro, porém, desde que a sua língua não é conhecida com detalhes, é incerto que essas populações devam ser classificados como "Ilíria" por motivos étnicos e linguísticos, e muitas tribos antigamente classificadas como ilíricas são agora considerados venéticas. Um modelo autóctone, assumindo uma etnogênese ilírica nos Balcãs, foi proposto por Alojz Benać e B. Čović, arqueólogos de Sarajevo (Bósnia-Herzegovina), os quais criaram a hipótese de que durante a Idade do Bronze existiu um “ilirianização” progressiva de povos que habitam as terras entre o mar Adriático e o rio Sava . Esta teoria foi proposta e apoiada por arqueólogos albaneses para as tribos do sul da Ilíria, enquanto Aleksandar Stipčević afirma que o modelo mais convincente de etnogênese ilíria foi a de autoctonia, excluindo os liburnianos.
Teorias etnogênicas dos ilírios |
Com o termo Illyrioi os gregos podem originalmente ter designado apenas um único povo que veio a ser conhecido por eles devido à proximidade com as terras gregas. Na verdade, esse povo conhecido como Illyrioi ocupou uma pequena e bem definida parte da costa sul do Adriático, em torno do Lago Skadar em torno da moderna fronteira entre a Albânia e Montenegro. O nome, então, se expandiu e passou a ser aplicado a populações etnicamente diferentes, como os libúrnios, dálmatas, iapodes ou os panônios. Em qualquer caso, a maioria dos estudiosos modernos estão certos de que os ilírios constituíam uma entidade heterogênea. As tribos da Ilíria coletivamente nunca se viam como “ilírios”, e é pouco provável que eles utilizaram qualquer nomenclatura coletiva para si. Plínio (23-79 d.C.), em sua História Natural, aplica uma rigorosa utilização do termo Illyrii, quando se fala de Illyrii proprie dicti ("ilírios propriamente ditos") entre as comunidades nativas do sul da província romana da Dalmácia.
Numa passagem na obra Illyriké de Apiano (95-165 d.C.) o historiador informa que os ilírios viveram além da Macedônia e da Trácia, a da partir Caônia e da Tesprotia (no Épiro) até o rio Danúbio, o que também testemunha o amplo uso do termo ilírio. De qualquer forma, o mundo greco-romano nos legou chamarmos de ilírios várias tribos que ocuparam grande parte da costa leste do mar Adriático (por isso chamada de Ilíria) quer tenham ou não afinidade étnica e linguística.
A Ilíria propriamente dita na visão dos romanos |
Sítios pré-históricos vinculados aos ilírios |
Religião
A cidade ilíria de Rhizon (Risan, Montenegro) teve o seu próprio protetor chamado Medauras descrito como carregando uma lança e fazendo passeios a cavalo. O sacrifício humano também desempenhou um papel na vida dos ilírios. Registros de Arriano (86-160 d.C.) mencionam o chefe Cleito, o Ilírio, sacrificando três meninos, três meninas e três carneiros pouco antes de sua batalha contra Alexandre, o Grande. O tipo mais comum de enterro entre os ilírios da Idade do Ferro foi o tumulus ou montículo funeral. Os parentes dos primeiros tumuli foram sepultados em torno dele, e quanto maior o status daqueles nestes enterros, maior o monte. A arqueologia tem encontrado muitos artefatos colocados dentro destes túmulos, como armas, ornamentos, peças de vestuário e vasos de barro. Os ilírios acreditavam que esses itens eram necessários para a viagem de uma pessoa na vida após a morte.
Risan, a antiga cidade ilíria de Rhizon |
Influência Helenística
Os túmulos dos nobres ilírios (idade do ferro, séculos 7 e 5 a.C.) contém um grande número de importações gregas, incluindo armamentos. Isto inclui os encontrados no platô Glasinac (Bósnia e Herzegovina), no Lago Ohrid (República da Macedônia), em Dolensko (Eslovênia) e diversos sítios na Albânia. O complexo cultural Glasinac-Mati engloba o leste da Bósnia, o sudoeste da Sérvia e Montenegro e o norte da Albânia. Os antigos capacetes gregos do tipo ilírio quer como importações ou cópias depois se espalharam por toda a Ilíria e um foi encontrado tão distante quanto na Eslovênia (embora novamente no túmulo de um rei), não só no complexo cultural Glasinac-Mati, como o capacete encontrado no túmulo de Klicevo, Montenegro. A influência grega neles é evidente.
Glasniac |
Os ilírios na costa do Adriático estavam sob os efeitos e influência da helenização devido à sua proximidade com as colônias gregas na Ilíria. Além de outras influências culturais e das armas e armaduras importadas dos gregos, os ilírios tinham adotado a ornamentação da antiga Macedônia em seus escudos e nos seus cintos de guerra (um único foi encontrado, datado do século III a.C. na moderna Selce e Poshtme, que outrora fizeram parte da Macedônia no tempo do rei Filipe V que antes disso era fronteira entre a Caônia e a Ilíria). Os ilírios usavam quatro círculos e concêntricos enquanto macedônios usavam cinco. Este antigo símbolo grego foi destaque na Tessália e Macedônia apareceu no século X a.C. e se espalhou por todo o sul da Grécia.
Escudo (pelte) ilírio |
A adoção típica do símbolo no período helenístico pelos ilírios é vista em um pelte (escudo) circundado de ferro com decorações semelhantes e um diâmetro de 35 cm. Isto é evidente durante o governo grego do sul da Ilíria sob as dinastias Antipátrida e Antigônida até a conquista romana. A cidade de Daorson, localizada na Dalmácia, era bem helenizada incluindo os chamados "muros ciclópicos”.
Muralha remanescente da antiga cidade ilírica de Daorson |
Influência Romana
A Ilíria se tornou uma província romana em 168 a.C. Os ilírios, que acabaram por ser romanizados, se rebelaram em 6 d.C. Os quase 200 anos de domínio romano mudaram as armas dos ilírios no momento da rebelião e eles se assemelhavam aos legionários romanos. As tribos que se rebelaram já haviam sido celtizadas no tempo que os romanos conquistaram a Ilíria e seu equipamento reflete isto. Habitantes da Dalmácia romana aplicavam um veneno em suas flechas chamado ninum. Isto não era uma influência romana, mas foi mencionado durante esse tempo.
A Dalmácia (Dalmatia) sob domínio romano |
A região dos povos ditos ilírios submetidos aos romanos foi chamada de Illyricum, a qual prosperou, tornando-se um elo importante entre o comércio da Europa ocidental e oriental. Os portos na costa da Ilíria tornaram-se importantes rotas comerciais e a influência latina se espalhou rapidamente e sem resistência em toda a região. Sabe-se que os ilírios foram inicialmente agressivos em suas relações com Roma, mas depois tornaram-se ansiosos e prontamente recrutáveis para as legiões romanas, tornando a província uma das principais fornecedoras de legionários. Eventualmente, quando se tornou altamente romanizada, a província dos ilírios foi o berço de vários imperadores romanos que por causa disso foram chamados de Illyriciani tais como Décio (249-251), Aureliano (270-275), Diocleciano (284-305) e Constantino, o Grande (306-337). Partes da área permaneceram no Império Bizantino até o século XIV, embora na maior parte tenha sido conquistada pelos sérvios, búlgaros e outros por volta do século VII.
FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Illyria
http://en.wikipedia.org/wiki/Illyrian_warfare
http://www.unrv.com/provinces/illyricum.php
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